sexta-feira, outubro 19, 2007

Um cheirinho de Gritstone na Guia

Quem haveria de dizer que a Guia ainda tinha alguma novidade para oferecer? Sim, para além das vias curtas mas cheias de rings (tem-se um no joelho e já outro nos bate no nariz!), metade do ano com as presas cheias de sal e a outra metade com as presas cheias de mãos a agarrá-las, regletes de unhas, passos nojentos, pescadores cabrões (ou ao contrário, tanto faz), quem haveria de dizer que a Guia ainda nos podia surpreender em novas sensações com um cheirinho de Hard Grit? Impossível?

Mas que maluco e em que raio de lugar da Guia é que seria possível encontrar uma linha por abrir, com entaladores e no melhor ambiente clássico? “Quem” é fácil, claro que só se lembraria disso o Francisco!

Ah, a propósito, aquela história do post aposta, com direito a jantar, já era. Pois, a tal fissura marciana, onde só os gajos que já nasceram bem entalados é que se mexem (sim, eu sei que nascemos todos, mas alguns parece que não lhes custou nada), já sabe o que é ser trepada, à frente e com eles (os friends).

Trepada a orgulhosa greta? Como foi isso?

No outro dia fomos os dois ao espinhaço e depois de desidratarmos umas horas na Nómadas do vento, que aliás, mais ou menos libertámos (parece que estava presa por uns A0), e mais ou menos porque um dos largos só foi encadeado em segundo e outro em sobe-e-desce ou iô-iô ou pinkpoint ou lá como se chama essa macacada.

(Caramba! Não consigo acabar um parágrafo sem se meter outra história pelo meio!) Bom, então, ah sim, excelente linha a Nómadas, um bom 1º largo com passos duros logo a arrancar (é pena uma ou duas chapas a mais), um 2º bem bom com alguma terra (na verdade se tivesse mais terra ela cairia das presas), um 3º de excelente ambiente e com passos físicos e um último que é dos melhores largos do espinhaço em excelente rocha (a via sairá mais ou menos: 7b+, 6c+, 7b+ e 6a).

Mas como eu estava a dizer, depois de sairmos com a língua de fora dessa via (estavam uns 30º C e à chapa do sol) e de bebermos uns 3 litros de água e porque ainda tínhamos tempo, fomos ao Cú da velha (Salvo seja!), quer dizer, fomos à tal fissura que assim ficou baptizada e que já tinha pendurado vários chouriços e por várias vezes. Ora vejamos, e sem querer melindrar ninguém, vou expor aqui os nomes dos escaladores mais frouxos cá da nossa praça:

Eu, Nuno Pinheiro, Leo, Miguel Loureiro, João Gaspar (o tamanho das letras foi lapso editorial)

Há mais gente, pelo que sei, o Fred, o Alberti e o Rosado também lá andaram, mas desses não posso dizer quantos é que foram chouriços. Parece que o P.Roxo (isto rima com quê?...) também lá foi à cata do jantar e estou mesmo a ver, mal leu o post foi fazer festas aos Camalots a salivar pelo jantar (até me disseram que ele foi lá com a corda à cintura e um guardanapo ao pescoço). Mas ele lá puxou dos galões e à quarta já chegava ao cimo da fissura, mas em top e sem direito sequer a tostas com manteiga (de qualquer maneira é um bom segundo lugar no ranking da conquista do rabo da velha).

Mas, continuando, lá fomos nós a Sintra, para o homem dos sete continentes (são sete?) e das três nacionalidades (português, espanhol e cigano) provar a coisa. Lá lhe entrapamos as mãos (isto é o plural majestático dos futebolistas) até ele ficar a parecer o coitadinho do Rossio e com dois nº 2 à cintura ficou pronto. E não é que o cigano (não tem outro nome) se passeia pelo Cú da velha!? Numa palavra foi enfadonho e desolador. Nem um gemido (nem dele nem da velha), nem um tremor, nada!

Felizmente que havia uma cláusula em letras miudinhas na aposta, “O Francisco não conta, leva só um lanchezinho”, e já goza, que isto de roubar chupas a miúdos ou lanches a otários não é todos os dias.

Pronto e agora sim, voltemos ao início da história.

Mas que maluco e em que lugar da Guia...? Bom já disse quem foi o maluco e onde, também é fácil. Pois na única parede da Guia que merece cinco estrelas. A Guia Nova! Não estou a brincar. Aquela parede é realmente original, tresanda a anos oitenta e a escalada com os pés. Dela guardo das melhores recordações da Guia.

Mas onde é a via?

À esquerda da Kamikaze e também se podia chamar assim. Segue por uma fissura óbvia sempre em frente e lá em cima atravessa à esquerda uns 5 metros e sai pelo top da Insustentável.

Mas é em clássica? E como são as protecções?

É clássica é, a partir de hoje. As protecções são aqueles ferrinhos em cunha no fim de um arame de aço (ou lá o que é) e dois ou três dos outros com molas e camas (ou lá o que é). Quantos? Todos os que se consigam pôr. E não “vale” proteger os dois rings iniciais da Kamikaze, nem o último da Insustentável (que está bem à esquerda) pois há que manter a pureza do estilo.

E grau (se é que isso existe), tem grau?

Claro que tem. Na cotação anglotuga é um 6b E1 ou 2, ou seja, nenhum passo custa mais do que 6b e se cais É 1 ou 2 dias no hospital (claro que há dias com sorte e aí, já se sabe, a cotação é subjectiva). Na escala do costume pode ser 7b, mas podem decotar que não nos importamos (já ‘tá feito!)

Quem fez e o que há a dizer da via?

Fiz eu e o Francisco, mas com o material já colocado (sim, é verdade, afrouxámos um pouco, mas ao menos estou aqui a escrever isto). A via faz lembrar aquele filme em que aparece o Jin Tin Tin Milu Trieu (ou lá como se chama o raio do homem) a voar até ao chão numa dessas vias malucas inglesas. Esta, claro, é menos dura (mas é nossa).

Por agora não me lembro de mais nada a acrescentar. Ah, a não ser que algumas presas não são muito rijas e alguns entaladores não ficam muito bons e em algumas quedas não ficas muito inteiro.

Alto, espera, e o nome da via?

Claro, faltava isso. Como se trata de um cheirinho de Gritstone e a via fala inglês e é realmente a via mais especial da Guia, chama-se...
.
The Special One!
.

Passos de saída da via, já nos movimentos da Insustentável.

O Francisco na parte mais divertida.

6 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei de mais dois que andaram a coçar o cu à velha: Bruno Gaspar e Carlos Pereira!

Por coincidência ou não, o tamanho da letra parece ser inversamente proporcional á frouxidão. Senão vejamos: o primeiro da lista, um dos anfitriões deste blog, já investiu três dias, muitos pegues e muito strappal (dos outros, claro!) e o melhor que fez foi não escorregar!

Anónimo disse...

Estas estórias à sexta-feira dão alta motivação para escalar ao fds (Não que eu vá contribuir para o "crowd" das referidas vias).
Grande relato Filipe.
RicardoC

Anónimo disse...

Eis um post de escalada cheio de espirito.

Parabéns.

Paulo Roxo

Anónimo disse...

Ali no cantinho dos teimosos à esquerda da cantinho está tb uma fissura tipo quarto de vigor meio-gordo.
O cú da velha lá me saiu, é pena que em top. Normalmente os cús são tipo pêra, mas este é mais tipo cebola, até faz chorar!
Rosado

Anónimo disse...

Deram-me a tarde no trabalho e fui até Sintra. Coloquei um top novo (2 tijes) no Penedo do Túmulo, naquela fissura que o B. Monteiro aconselhou. Ele disse camalot 2 e 3 , mas é melhor um ou 2 nº4, assim como uma escova de aço.
Para lá chegar, contornar o túmulo do ferreira de Castro e procurar uma arvore muito grande, avançar por entre os calhaus tentando fugir às silvas e sempre pela mesma cota. passados 50 mts ir olhando para cima das árvores em busca de um grande pinheiro. Voilá.
Colei as tijes e passado 3 horas começou a chover mas penso que não vão sair.
vão lá, aquilo é 7a/7a+ de bavaresa (+-15mts).

Abraço

Rosado

Rosado

FCS disse...

Mas vê lá se ao menos vais lá não escorregar, por enquanto só há "O" gajo que encadeia, 3 que não escorregam e uma cambada de chouriços. ('tá bem prá próxima ponho o teu nome tão pequeno que ninguém dá por ele...)

Assim que o inominável arranjar mais strapal vamos às outras fendas de sintra.

E tu ó ":-)" deves ter 5 m! Vê lá se me mandas o e-mail pra te mandar o presente embrulhado em letras.