Após uns meses “a monte” decidimos regressar. Por estradas secundárias e sempre pé a fundo voltamos ao local do crime. No cruzamento para a Guia despistamos os últimos perseguidores, depois de nos irmos livrando dos outros, nos cruzamentos de Montserrat, Patones e Portinho.
A quadrilha era composta pelos irmãos “entalecos” e uma dúzia de amigos, cada um com o seu revólver em punho. Não ousaríamos atravessar um detector de metais, mas de gorro bem enfiado na cabeça passamos despercebidos entre os pescadores locais. O alvo era uma pérola Transatlântica que se encontrava bem guardada no interior do forte do Espinhaço. O plano era perfeito mas uma notícia de última hora denunciou-nos. Alguém tinha dado com a língua nos dentes? Ou terá a redacção do Rocha podre escutas e câmaras secretas em todas as paredes?
Era tarde de mais para abortar a missão pelo que prosseguimos e pé ante pé alcançamos o terceiro andar, um diedro com uma fenda cega. A única presa da fissura parecia uma nascente inesgotável e não havia plano alternativo. A inevitável escorregadela fez disparar o alarme e foi preciso retroceder para não levantar mais suspeitas. À segunda, entre tremeliques e ameaças de prisão, lá chegamos ao quarto andar. Daqui para a frente parecia mais fácil, mas os alarmes mais sensíveis. Um velho buril laçado com um entalador, seguido de um piton de duvidosa eficácia eram as únicas defesas no terrível estrato basáltico e não garantiam que não voltaríamos ao terceiro andar. Só depois de vários metros, na segurança de uma chapa, pudemos respirar de alívio. Aqui, os amigos ajudados de umas velhas cunhas de madeira entraram em acção e dois andares mais tarde pudemos dar por terminada a investida.
Tínhamos posto as mãos numa das pérolas mais preciosas deste filão. O seu valor de mercado é incerto mas também não importa, pois não a roubámos para a vender. Agora, era tempo de celebrar com o gangster local e voltar a pormo-nos a monte.
Por Francisco Ataíde
Nota do editor: El chef e a sua comparsa apareceram-me em casa a altas horas da noite. Descreveram-me o assalto e mostraram-me a mercadoria. Ainda estava quente. Corri as cortinas. A qualquer momento esperava ouvir as sirenes. O Venezuelano e a Bola já tinham chegado mas o atraso do Escocês preocupava-me, pois a massa para a transacção estava a arrefecer. Já sobre a mesa, a pérola e outras jóias rolaram de mão em mão e duas garrafas depois ainda sabíamos menos quanto valiam. Só o Mãozinhas e o Entalado, os mais mafiosos dealers de rocha duvidosa poderiam avaliar com segurança...
A quadrilha era composta pelos irmãos “entalecos” e uma dúzia de amigos, cada um com o seu revólver em punho. Não ousaríamos atravessar um detector de metais, mas de gorro bem enfiado na cabeça passamos despercebidos entre os pescadores locais. O alvo era uma pérola Transatlântica que se encontrava bem guardada no interior do forte do Espinhaço. O plano era perfeito mas uma notícia de última hora denunciou-nos. Alguém tinha dado com a língua nos dentes? Ou terá a redacção do Rocha podre escutas e câmaras secretas em todas as paredes?
Era tarde de mais para abortar a missão pelo que prosseguimos e pé ante pé alcançamos o terceiro andar, um diedro com uma fenda cega. A única presa da fissura parecia uma nascente inesgotável e não havia plano alternativo. A inevitável escorregadela fez disparar o alarme e foi preciso retroceder para não levantar mais suspeitas. À segunda, entre tremeliques e ameaças de prisão, lá chegamos ao quarto andar. Daqui para a frente parecia mais fácil, mas os alarmes mais sensíveis. Um velho buril laçado com um entalador, seguido de um piton de duvidosa eficácia eram as únicas defesas no terrível estrato basáltico e não garantiam que não voltaríamos ao terceiro andar. Só depois de vários metros, na segurança de uma chapa, pudemos respirar de alívio. Aqui, os amigos ajudados de umas velhas cunhas de madeira entraram em acção e dois andares mais tarde pudemos dar por terminada a investida.
Tínhamos posto as mãos numa das pérolas mais preciosas deste filão. O seu valor de mercado é incerto mas também não importa, pois não a roubámos para a vender. Agora, era tempo de celebrar com o gangster local e voltar a pormo-nos a monte.
Por Francisco Ataíde
Nota do editor: El chef e a sua comparsa apareceram-me em casa a altas horas da noite. Descreveram-me o assalto e mostraram-me a mercadoria. Ainda estava quente. Corri as cortinas. A qualquer momento esperava ouvir as sirenes. O Venezuelano e a Bola já tinham chegado mas o atraso do Escocês preocupava-me, pois a massa para a transacção estava a arrefecer. Já sobre a mesa, a pérola e outras jóias rolaram de mão em mão e duas garrafas depois ainda sabíamos menos quanto valiam. Só o Mãozinhas e o Entalado, os mais mafiosos dealers de rocha duvidosa poderiam avaliar com segurança...
1 comentário:
Ahhhh...pois é!
Dita a sabedoria popular que emigrante que é emigrante à velha terrinha sempre volta. E que bandido que a monte anda, ao local do crime regressa.
E além disso com estas tecnologias e modernisses aqui a malta da Rocha Podre tem tudo monitorizado. É camaras, é microfones, imagem em tempo real...emfim tudo em prol do controlo, por causa daquela cena da capacidade de carga e sustentabilidade das actividades verticais! Nem mais!!!
E para tentar agarrar os delinquentes...zás...tá a pôr a boca no trombone! Infelizmente ainda não foi desta que os caçamos!
Mas que belo assalto! Muito bem arquitetado e executado, perante tão sensiveis alarmes.
Quanto valerá??
Ouvi dizer que poderia valer qualquer coisa para além de "sete graus", mas creio que perola tão brilhante, no fundo, jamais poderá ser quantificada. Agora, a ousadia dos bandidos, essa sim, essa merece o que de mais valioso possa existir.
M.Grillo
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