sexta-feira, novembro 10, 2006

O fio da lâmina

Neste post vou mandar às urtigas o leitor/escalador. Quero dizer, não procuro agradar, nem ser claro e nem sequer me preocupa nada ser entendido. Mas isso é o costume dizem vocês! Sim, mas desta vez é como se falasse sozinho e apenas me interessasse escutar o meu próprio eco, para aí descobrir, por já não ser eu que o digo, se o que oiço faz sentido ou não. Não é um exercício narcisista mas facilmente pode ser ridículo. Arrisco.
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Para cada coisa é possível tomar como perspectiva o ponto mais alto ou o ponto mais baixo. Conhecer os dois extremos de uma escada é conhecer o alcance de duas possibilidades inversas. Subir e descer opõem-se como céu e abismo (sabendo ainda que abissus abissum invocat). Sem nenhuma ficção, podemos ver-nos ao espelho como um macaco ou um deus.
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A escalada/montanha também pode ser olhada de dois extremos opostos (tocam-se?). A tendência natural, porque favorecida pela gravidade, é o baixo. Circo, teatro e palco. O extremo superior é um mistério. Aí, o eco não devolve as palavras. O fio da lâmina é o caminho entre esses dois pontos.

6 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom!
De qualquer das formas, a mim parece-me que o mistério está no fio da lâmina(caminho entre esses 2 pontos), entre esse "abismo que nos puxa" e o céu que nao "existe"

Anónimo disse...

Julgo que a versão original é abissus abissum vocat, de vocare (chamar). Era a definição romana do que chamamos "atracção do abismo" e sem dúvida um dos mais belos ditados latinos. Folgo em vê-lo citado.

Anónimo disse...

Prefiro o "abissus abissum INvocat".
Não há montanha sem abismo e ao mesmo tempo que os extremos se tocam eles são a causa e efeito um do outro. Subimos não para subir mas para descer e para poder olhar para baixo e apreciar a nossa propria existencia LÁ do ponto de vista de CÁ.


"To light a candle is to cast a shadow"
Ou acham que poderiamos subir a montanha sem descer dentro de nos?

Anónimo disse...

Sem duvida que o que ralmente nos atrai não é o ponto mais alto e tão pouco o mais baixo.. é sim "O fio da lâmina"!..

Anónimo disse...

E a virtude?! fica realmente no meio/equilíbrio?!?!
O fio da navalha é esse meio termo...é o próprio equilíbrio?!?!

FCS disse...

Não sei porquê lembrei-me de cegos às apalpadelas.

A virtude não é o fio da navalha. O centro/meio é um equilíbrio não ameaçado. O caminho para ela é que é uma "ameaça" permanente.

Também podia pôr a pergunta contrária à do Nikola: ou acham que poderíamos descer dentro de nós sem subir a uma montanha?