segunda-feira, agosto 11, 2008

O bar do Costa e a Molécula

Numa visita demasiado rápida pelos pequeninos montes (e quase desprovidos de falésias) dos Picos de Europa, calhou passarmos pelo bar do Costa na aldeia de Teverga. Aí comemos as melhores bocatas de Espanha, torradas e feitas com presunto de touro. O Costa, diga-se, é um tripeiro dos três costados que nos tratou logo por mouros, visto sermos de Leiria para baixo.
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- Issé tudo môuros raio c'os parta!
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Outro prato forte do Costa é a maneira como ele fala com os espanhóis. As suas frases são uma mistura de portunhol com o melhor calão português e ditas à moda do Porto. As vias de Teverga não sei se são boas, mas vale a pena ir a Teverga só para ir ao bar do Costa.
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Nessa manhã, para merecermos a bocata do Costa, tinhamos ido escalar uma via clássica com um 3º largo de fissura: "La molecula, 7a+". Um escalador que conheceramos na véspera, o Roger Molina, tinha-nos convencido. Depois de uma hora a trepar 500m de desnível, através de cascalheiras, desfiladeiros, bosques, cabras mortas, carrapatos e sempre cercados por paredes virgens, chegamos a uma cova de onde saía a "Molecula". Calhou-me a mim o 1º largo, um 6b+ de 50m, dos quais 30m eram uma fissura de autoprotecção. Deste largo apenas se viam duas chapas numa linha que circundava a cova em direcção a um planalto mais acima... O Roger pensava que o 6b+ começava nesse planalto e que haveria aí uma reunião. Como o planalto era já ali, uns 20m acima, peguei em quatro friends e quatro cintas, que seriam suficientes para este largo de acesso. Lá fui à via e depois de curvar a saída da cova, mais ou menos a 15m, vi que afinal a via seguia para cima. Continuei, sempre a pensar que a reunião seria logo ali. Em vez de duas chapas, foram aparecendo 4, 5, 6 e numa rocha tão podre que me fez ter saudades das vias do Roxo. As presas que tremiam eram as boas, as outras saíam todas e caíam numa rampa mais abaixo. Entretanto, não tinha expresses e só me restavam 3 friends. Por fim a placa acaba e as plaquetes também, a rocha torna-se sólida e aparece-me a bela fissura pela frente. Uma fissura um pouco suja mas excelente. Uma fissura excelente até de proteger, com friends que entrariam à bomba... 30m de fissura excelente! E não há dúvida que os meus 3 friends entraram à bomba... Enfim, passei mais medo neste larguito que nos 500 m do Naranjo! Cheguei à reunião cansado dos tomates se é que me faço entender.
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Mas mais acima, o 3º largo valia a pena. Uma fissura de 30 m, ligeiramente extraprumada e com uma bela vista. Aqui ficam as fotos do Roger, que fez a 1ª repetição da via.
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....................O caminho perdido para a via perdida
.................Lá bem em cima, na placa, o 3º largo da Molecula


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